23/09/11

[Dossier III] 3 anos da queda de Lehman Brothers


Senhores, não estejam tão contentes com a derrota [de Hitler]. Porque embora o mundo se tenha posto de pé e teha detido ao Bastardo, a Puta que o pariu anda quente novamente. 6/5/1945, Bertolt Bercht refirindo-se ao capitalismo como causa do fascismo.

Quando se cumprem três anos da queda de Lehman Brothers, em segunda-feira 15 de setembro, assistimos impávidos a reformas laborais, injecçons BILHONÁRIAS à banca, a bancarizaçom das caixas e múltiplos recortes na despesa social que ainda estám por vir. Todo isto quando o sistema-mundo capitalista está entrando no foso dumha Grande Depresom que entra numha nova e mais virulenta fase.

Com a queda do Lehman começou um colapso económico que já dura três anos e que jogou ao desemprego a mais 40 mulhons no mundo; jogou a mais de 1.000.000.000 de pessoas à fame; quedárom milheiros de empresas e até estados; inumeráveis famílias desestruturadas, etc. 

Iniciamos este DOSSIER, de maneira sucinta, com um imperdível artigo de Walden Bello: "Todo o que vostede quere saber sobre a orixe da crise, mais que teme nom percebelo". Nele o professor relaciona a crise com a sobreproduçom da década de 70 até a actual de sobreacumulaçom após décadas de ultraliberalismo galopante e com uns juros gregos que andam no 150%.Um ABC da crise actual que paga a pena ser lido com detemento.

Dean Baker fai um repasso dos últimos três anos em "Lehman Brothers: tres anos de negación" e o panorama que apresenta nom é nada esperançado. Como o economista norte-americano indica os mesmos que tinham o poder antes da crise seguem-no detendo agora, polo que criárom umha ignomínia por história oficial e asseguram-se de que gente ouça muito pouco que saia da ortodoxia ultraliberal que conduz ao mundo ao suicídio económico. Resulta bastante perturbador que os ambiciosos da indústria financeira e os seus apoios do mundo da política podam devastar a economia e arruinar milhons de vidas, e seguir mantendo o controlo da política sem sofrerem eles mesmo apenas as consequências. Porém, porquê é que  teriamos que esperar outra cousa?

Mais amplo e coevo da queda do Lehman é o artigo de Michael Hudson,  "O resgate de todos os resgates: golpe de Estado cleptocrata nos EUA".  Em seu célebre livro Caminho da Servidão, Friedrich von Hayek e seus meninos de Chicago insistiam que a servidume viria da planificaçom e da regulaçom estatais. Essa visom caminhava na direçom contrária a dos reformadores clássicos da Era Progressista, que concebiam a ação do Estado como a do cérebro da sociedade, como a linha diretriz para modelar os mercados e liberá-los dos especuladores rentistas, ou seja, da renda que não fosse contrapartida do desempenho de um papel necessário na produção.

  A teoria da democracia fundava-se no pressuposto de que os eleitores atuariam movidos pelo próprio interesse. Os reformadores do mercado partiram de uma feliz suposiçom paralela, segundo a qual os consumidores, os poupadores e os investidores promoveriam o crescimento económico actuando com pleno conhecimento e cabal compreensom das dinâmicas em acçom. Mas a mao invisível terminou resultando em fraude contábil, empréstimo hipotecário podre, informação privilegiada e fracasso em controlar os crescentes gastos da dívida conforme a capacidade dos devedores para pagar. É todo este caos, aparentemente legitimado por alguns modelos de comércio eletrónico, como o Lehman Brothers  socorrido pelo Tesouro dos EUA.

Um outro artigo, sobre a reforma da Consittuiçom de Héctor Rodríguez Vidal e Antom Fente Parada foca também na tónica de Hudson os dogmas da teologia ultraliberal. Num mundo em que o proteccionismo é a practica geral dos estados mais poderosos é claro que os postulados económicos realmente vigentes nom som os do liberalismo clássico, nom o som senom para os países geralmente mais depauperados. Capitalismo para os pobres, socialismo para os ricos.  Nom houvo límites para a acumulaçom de riquezas nem para que os poderosos puderam e podam desenvolver práticas económicas que excluíam à maioria que perde assim a sua liberdade. E entre a constriçom da liberdade e um repasso polas experiências do shock ultraliberal rematam assim o seu artigo: 
Isto é o que leva a acontecer cerca de quarenta anos perante os nossos olhos abúlicos e indolentes, mas perante o ecrám da TV nunca pensamos que fosse a casa do vizinho a que assaltaram os bandidos ou que puidéramos precisar carabinas carregadas com projécteis de sal ou um cam que guardara a porta; pola contra vivemos estupidamente o momento vazio do consumidor eternamente adolescente. Agora somos nós que vamos para o matadouro (presos pola Constituiçom que se cumpre ou respeita segundo parece, como se for lei do costume), e os nossos filhos e netos quiçá (mesmo se ainda nom nascêrom) venham connosco para serem cortados em rendíveis pedacinhos que alimentem a dividocracia e vendam libras da sua carne para pagar as dívidas, como na obra de Shakespeare O mercadder de Venécia (1600). Agora já nom podemos refugiar-nos no facto de ser a miséria alheia que sustenta o nosso nível de vida e nom há soluçom para as injustiças colaterais, pois agora a miséria bate à porta da nossa casa coa mala na mam, com clara intençom de vir morar entre nós. Como dom Quixote lhe dizia ao seu escudeiro: "La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos: por la libertad , así como por la honra se pude y debe aventurar la vida". 

 Ao fío do anterior convém lembrar as palavras dum recente artigo de Santiago Alba Rico: "Tenhamos muito cuidado em Europa: ninguém nos vai avisar quando chegue o fascismo nem serquer se vai apresentar -seria absurdo- com esse nome. Tenhamos cuidado: nom vamos reconhecer o nazismo quando regresse porque falará de novo, como entom, de paz e civilizaçom, de valores e normalidade". E todo isso quando a crise apenas parece ter começado para cair ainda num buraco mais fundo. Marcelo Justo adverte para os perigos do sistema bancário chinês algo que Giovanni Arrighi já advertira há mais dumha década ao assinalar que quando existe caos no sistema mundo capitalista a potência emergente vive umha crise no seu epicentro financeiro que gera um crack mundial, sucedeu com a crise da bolsa de Londres quando a Grande Bretanha emergia na cena muncial para detentar a hegemonia face as Províncias Unidas e sucedeu logo em 1929 quando os EUA subsituiam ao Império británico na cena mundial. Boas leituras!.


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